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O primeiro artigo “A gênese”, de Silene de Araújo Lourenço, trata sobre o processo de construção compartilhada do conhecimento.
A Gênese
(Silene de Araújo Gomes Lourenço)
Os principais desdobramentos teóricos e metodológicos na abordagem dos fenômenos da Cultura e da Comunicação de Massa no âmbito da América Latinae, em particular, no Brasil,nos últimos anos, levaram à aproximação entre Comunicação e Educação. Nesse sentido, devemos destacar a enormecontribuição dada por Paulo FREIRE1.
Ao denunciar o caráter opressore excludente do sistema oficialde ensino, FREIRE propõe uma nova pedagogia – a Pedagogia do Oprimido2 – a partir da qual a educação deveria estar a serviço da liberdadee da justiça social em oposição à ideologia dominante. O movimento pela igualdade e pela liberdade deveria partir dos próprios oprimidos, assim como uma pedagogia popular deveriaser construída com o povo e não para o povo, na luta incessante pela recuperação de sua humanidade.
A educação, portanto,passa a ser entendida como um instrumento de conscientização e politização das massas, e o conhecimento é resultado de um processoque se realiza no contato do homem com o mundo vivenciado, o qual não é estático, mas dinâmico e em transformação contínua. Desse processo, advém um conhecimento que é crítico, porque foi obtido de uma forma autenticamente reflexiva, eimplica em ato constante de desvelar a realidade posicionando-se nela. O saber construído dessa forma percebea necessidade de transformar o mundo, porqueassim os homensse descobrem como seres históricos.
Ao conceber a educação como um processode construção compartilhada do conhecimento, FREIRE apontaa relação dialógicacomo condição sine qua non para a transformação dos homens em sujeitos.A problematização em torno de situações concretas faz do diálogoo caminho para a ação transformadora. Dessaforma, a comunicação adquire uma dimensão política, uma vez que é na relaçãodialética entre os homens, mediatizada pelo mundo, que o pensamentose faz consciência crítica.
VenícioA. de LIMA3, explica que a comunicação, para FREIRE, é um elementofundamental em pelo menos três níveis:
1) Nível antropológico: a comunicação é um elementoconstitutivo da naturezahumana, isto é, o homem só se faz homem na relação com outros homens.
2) Nível epistemológico: o conhecimento é gerado pelo processo comunicativo. Sem comunicação não há produção de novos conhecimentos.
3) Nível político: na relação de dominação não há possibilidade de comunicação (do latim communis,que significa tornar comum a muitos, tornarconhecido) e, portanto, não há produçãode novos saberes.A condição de igualdade é o pressuposto da educação concebida por FREIRE.
O desenvolvimento científico e tecnológico dos últimos anos, responsável pelo crescimento de dispositivos e canais de produção e distribuição de informação e conhecimento, tem favorecido, desde a segundametade do século XX, muitasreflexões teóricas tanto no campo da Comunicação como no campo da Educação,possibilitando a extensãode vínculos originais entre eles. Seguindoa matriz do pensamento freireano, diversos comunicadores e grupos.
1 Considerado um dos grandes pedagogos da atualidade e respeitado mundialmente, Paulo Freire nasceu em Recife em 1921 e faleceu em 1997. Embora suas idéias e práticas tenham sido objeto das mais diversas críticas, é inegável a sua grande contribuição em favor da educação popular. Suas primeiras experiências educacionais foram realizadas em 1962 em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados em 45 dias. Suas atividades são interrompidas com o golpe militar de 1964, que determinou sua prisão. Exilou-se por quatorze anos no Chile. Sua atuação levou o país a receber uma distinção da UNESCO, por ser um dos países
que mais contribuíram à época, para a superação do analfabetismo. Em 1970, junto a outros brasileiros exilados, em Genebra, Suíça, criou o IDAC (Instituto de Ação Cultural), que assessora diversos movimentos populares, em vários locais do mundo. Retornando do exílio, Paulo Freire continuou com suas atividades de escritor e debatedor, assumiu cargos em universidades e ocupou o cargo de Secretario Municipal de Educação da Prefeitura de São Paulo, na gestão da Prefeita Luisa Erundina. Algumas de suas principais obras: Educação como Prática
de Liberdade, Pedagogia do Oprimido, Cartas à Guiné Bissau, Vivendo e Aprendendo, A importância do ato de ler.
2 Pedagogia do Oprimido, a obra mais conhecida de Paulo Freire, foi editada primeiro em inglês e espanhol, em 1970, só aparecendo no Brasil quatro anos depois, embora o manuscrito fosse de 1968. Esse livro foi traduzido em 17 idiomas e prefaciado por Ernani Maria Fiori. Os livros de Freire têm sido publicados em diversas línguas e influenciado toda uma geração de educadores e militantes políticos. Cf. GADOTTI, Moacyr (org.). Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo: Cortez Editora, 2001. p. 60.
3 LIMA, Venício Artur de. Conceito de Comunicação em Paulo Freire. IN: GADOTTI, Moacyr (org.). Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo: Cortez Editora, 2001. p. 621.
Artigo produzido para a 6a. fase do Projeto Educom Rádio – 2004.
3 LIMA, Venício Artur de. Conceito de Comunicação em Paulo Freire. IN: GADOTTI, Moacyr (org.). Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo: Cortez Editora, 2001. p. 621.
Artigo produzido para a 6a. fase do Projeto Educom Rádio – 2004.
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