Seminário “Educomunicação na Práxis Social” discute as perspectivas epistemológicas, na Europa e no Brasil

A abertura do Seminário Avançado “Educomunicação na práxis social: perspectivas epistemológicas em debate, na Europa e no Brasil” abriu o debate com as abordagens teórico-metodológicas em torno do conceito e da prática desse campo tanto no cenário nacional quanto internacional.

Com o tema “Educomunicação: Perspectivas epistemológicas em debate”, a mesa foi mediada pela professora Maria Cristina Palma Mungioli, do Departamento de Comunicações e Artes da ECA/USP, acompanhada do professor José Ignácio Aguaded Gómez, da Universidade de Huelva, da Espanha, que apresentou a temática com base em experiências na Europa; o professor Ismar de Oliveira Soares, fundador do NCE/USP e presidente do ABPEducom, que mostrou um panorama desse campo com base em sua trajetória em prol de seu desenvolvimento pelo Brasil; e do jornalista e mestrando da ECA/USP Dodô Calixto, que contou a sua experiência no projeto Educom.Rádio e o seu envolvimento com a Educomunicação.
O professor Aguaded destacou o desenvolvimento da Educomunicação na Europa com base nos estudos científicos realizados na Universidade de Huelva e de outras experiências práticas em sua região. Também enfatizou a importância dessa área para promover mudanças significativas em um mundo em constante transformações, considerando essa interface um dos caminhos para a busca de soluções para os problemas atuais.

“Precisamos passar da fase de luto para a fase de intervenção. Transformar o mundo partir de problemas reais para encontrar soluções reais. A responsabilidade da Educomunicação é essencial, pois é um campo interdisciplinar, e todos, de alguma forma, têm uma forma para contribuir com essa missão”, aponta Aguaded.

A busca de alianças para cumprir essa missão, segundo o educador, é essencial. “Precisamos buscar alianças, formação, pesquisas. O mundo está em mudanças, por isso precisamos de pesquisadores. Vivemos uma utopia, por isso precisamos de missionários para tornar essa utopia possível”, ressaltou.
O professor Ismar Soares traçou um panorama histórico do desenvolvimento da Educomunicação com base na sua experiência, que começou na década de 1970, sob a perspectiva crítica e leitura dos meios. Houve, com o tempo, uma evolução neste sentido, e hoje há uma mudança nos processos comunicacionais, com a formação de um novo sujeito, e mais complexo. “Surge um novo lugar, um novo sujeito, que se dá sobre diferentes áreas, o receptor passa a ser emissor e a ter uma visão de futuro. Ele emerge dialogando com os educadores e comunicadores. A comunicação passa, então, a ser objeto de estudo e análise do educomunicador”, aponta Soares.

Soares destacou também os principais eventos realizados nesse segmento, como congressos, simpósios, tanto nacionais e internacionais; indicou obras que ajudaram a divulgar o campo com base em importantes autores, como Paulo Freire, Jesús Martin-Barbeiro, Mario Kaplún; alguns projetos desenvolvidos, dentre eles o Educom.rádio, um dos mais significativos; as conquistas no segmento, como algumas iniciativas que se transformaram em políticas públicas; e a formação de importantes instituições para fortificar o campo, dentre elas a ABPEducom, que atua em prol dos profissionais da área.
Conquistas importantes para se manter preparado com a chegada dos meios de comunicação no espaço educativo, sobre os quais ele questiona: “Como trabalhar com os novos companheiros, os meios de comunicação?”. E é aí que surge o desafio da Educomunicação. “Defendemos que a Comunicação é uma área da Educação. Estamos no campo emergente, na interface. A Educomunicação potencializa a acessibilidade midiática. E o desafio da Educomunicação é orientar nessas produções no papel de mediador. No entanto, temos de manter a coerência epistemológica dos projetos, consolidar os processos formativos, promover e ampliar o protagonismo dos sujeitos da Educomunicação, que são as crianças, os adolescentes, os jovens, os professores e gestores”, aponta Soares.
E, para a concretização desse compromisso, Soares ressalta a importância das parcerias para a Educomunicação ser consolidada. “Como estamos falando de utopia, é importante consolidar o que está sendo feito e buscar novos aliados. Estamos vivendo um período de turbulência, que não admite criticidade. Mas não fugimos ao debate, pelo contrário, queremos promovê-lo. Por isso é preciso avaliar a diretriz curricular para verificar onde estamos para buscar alianças e mostrar a nossa cara”, finaliza.


Experiência significativa

O mestrando do PPPGCOM Dodô Calixto é um dos exemplos de que a Educomunicação tem a sua representatividade no espaço educativo. Ele participou do projeto Educom.rádio, idealizado na década de 1990 em escolas da rede municipal de São Paulo, e conta que foi uma experiência enriquecedora fazer parte de uma iniciativa que mudou o modo de ver o mundo à sua volta. Para ele, as oficinas, realizadas na escola onde estudava, na zona leste de São Paulo, permitiram o diálogo em sala de aula e uma maior aproximação dos educadores, que, até então, tinha uma relação distante e vertical.  
Mais do que isso, ele destaca que os estudantes conquistaram algo importante, o direito de ter voz. “Ter direito à voz foi uma das conquistas. E isso é importante, por conta do diálogo social, que ajudou a mudar o relacionamento com os professores. Essa experiência com o Educom.rádio mudou a minha percepção de mundo, de escola, de relacionamento. Foi importante para definir a minha área, lutar por transformação social. O projeto deixou uma marca importante, pois mudou a nossa postura. A Educomunicação é uma marca de expressão”, enaltece Calixto.

Seminário “Educomunicação na Práxis Social” discute as perspectivas epistemológicas, na Europa e no Brasil

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