A partir da experiência do cinema, estudantes da Licenciatura em Educomunicação foram desafiados a produzir textos coletivos sobre filmes que dialogam com o universo da Comunicação/Educação. A proposta é reunir diferentes percepções sobre um mesmo filme e construir coletivamente um ensaio. Os resultados do trabalho serão publicados por aqui.
Hoje, temos o texto de Alessandro Zaharur Alves, Lucélia Martins de Souza e Murilo Teixeira Mendes sobre o filme ‘Vermelho Como Céu’.
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Por Alessandro Zaharur Alves, Lucélia Martins de Souza e Murilo Teixeira Mendes
Sem a visão, os demais sentidos mostram-se dispostos a apresentar um mundo completamente novo. Em Rosso Come il Cielo (Vermelho Como o Céu) vemos as iniciais complicações e posteriores descobertas de um garoto amante dos filmes que percebe sua nova paixão, o efeito sonoro.
A obra conta, na década de 70, a história de um garoto chamado Mirco e seu inicial sentimento de inferioridade, por não enxergar. Tudo se inicia na paixão do garoto pela arte cinematográfica, levando-o a visitar o cinema com seu pai constantemente.
Certo dia, após uma corriqueira sessão, o menino toma-se a brincar com a arma de fogo de seu pai, mantida na sala de estar. Por consequência de um acidente,a arma dispara, deixando o garoto cego.
Após o ocorrido, Mirco se vê obrigado a ingressar em uma instituição de ensino específica, na qual era dirigida por freiras e atuava somente com deficientes visuais. Localizada em Genova, a instituição tornou-se a única saída, visto que as demais escolas públicas não encontravam-se adaptadas a nova condição de Mirco.
Sem saber lidar com seu novo estilo de viver, o garoto convive com outros meninos cegos e, devido a deficiência, fica limitado por várias regras, das quais a sua antiga escola e a vida com seus pais não partilhavam, tornando-o recluso aos poucos.
Mesmo com sua dificuldade, Mirco a todo momento faz questão de negar a deficiência, deixando sempre claro que enxerga, mesmo que pouco, e colocando isso como “troféu” diante de todos os seus colegas da escola, que também são cegos. Ele passa boa parte das cenas gabando-se de sua capacidade de descrever cores, formas etc.
Uma dos momentos que fica mais evidente seu desencontro com o ambiente, ocorre na aula de Braille. Nesta cena, ele acaba rejeitando qualquer aproximação que o professor tente com sua nova realidade. Após ser levado para a diretoria por conta de uma briga com um garoto do convento, Mirco encontra um gravador e, com a ajuda de Francesca, filha do zelador, e Felice, seu primeiro amigo no local, grava áudios de coisas que retratam as estações, no intuito de realizar a tarefa do professor.
A descoberta do “novo olhar” para Mirco é feita por meio da mediação do professor. Este conduz o menino a perceber que para enxergar necessita-se de todos os sentidos: tato, olfato, paladar, audição e a visão em conjunto, pois esta última é apenas um dos elementos que compõem a percepção humana e não o único e determinante. O professor ainda demonstrou-se fundamental na superação do garoto com sua suposta deficiência e no processo de descoberta do menino com a paixão pelos sons produzidos pelas diversas coisas.
Capaz de despertar variadas reflexões, as cenas e a história de modo geral mostram-se centro de discussão para os educadores, os educomunicadores, os alunos, os professores e para todos aqueles que pensam nas diferentes concepções de sensitividade. Além disso, aborda a inclusão do deficiente no âmbito social.
Permeado por metáforas, o filme inicia sua trama no “brincar”, que mesmo envolto ao restrito espaço das regras, continua a acontecer de diferentes formas, adaptando-se às possibilidades. As cenas trabalham a brincadeira dentro do campo, do quintal, com ou sem bola , ouvindo e utilizando a voz, recebendo sons do gravador, da árvore, do vento etc., usando a imaginação e o sonhar como “chaves” para novas descobertas e como prolongamento do universo das brincadeiras.
O sistema de ensino brasileiro atual tem trabalhado de forma bastante colaborativa com o apoio e com a adaptação aos deficientes. Entretanto, grande parte das instituições ainda tratam a questão de modo similar ao filme, criando organizações específicas para cada deficiência. Tanto estudos como vivências já demonstram a inviabilidade desse método, visto que a convivência do deficiente com o indivíduo sem deficiência auxiliaria ambos em sua construção escolar e pessoal.
O grande “ponto-chave” encontra-se no tratamento cultural e social do deficiente, trabalhando-se e desenvolvendo o costume e a normalidade do assunto, dando apoio tanto para o deficiente, com sua inclusão, quanto para a pessoa sem deficiência, com sua adaptação.