2. Educom desafia: Você Conhece a Arte Negra?

É parando pra pensar que nos damos conta: conhecemos mesmo a arte negra brasileira? Debret, por exemplo, fez desenhos realmente lindos, mas são sobre os negros e não dos negros… Conhecemos o que os negros arrancados de suas pátrias, suas terras e suas culturas produziam em sua terra? Um bom ponto de partida seja se dar conta do plural… talvez assim, tenhamos mais do que sucessos individuais para comentar!

A ARTE NEGRA NOS 500 ANOS


Paulo Freire, em seu livro “A Pedagogia do Oprimido” coloca brilhantemente que nossa realidade social opressora não é fruto do acaso, mas da ação humana e que sua transformação também não se dará ao acaso. É uma tarefa que exige nossa dedicação e tão pouco pode ser servida em bandeja de prata, servida como iguaria ou benesse, como bem coloca o prof. dr. Claudemir Viana em suas aulas ”- Não nos cabe dar voz à ninguém, nosso papel é oferecer meios para que encontrem e expressem sua própria voz.”

Um dos tesouros que encontramos no NCE foi o volume “O Brasil de Todos os Negros”, de maio de 2.000, da “Revista Cultural”, produzida pela Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo. Tentamos buscar no website da Secretaria da Cultura mais informações sobre o projeto, mas não encontramos registro da existência da revista. Pesquisando na  internet, encontramos referência a essa publicação no site Mercado Livre, onde um leitor tenta vender suas cópias.

Na resenha, a jornalista Kátia Ferraz faz um recorte sobre passado e presente do negro brasileiro na cultura, arte, religião e culinária. Apesar de ignorar pontos importantes, Kátia dá voz a diversas personalidades negras: a matéria instiga a curiosidade do leitor sem deixar de abordar os problemas de racismo ou cair no mito da democracia racial.

A primeira a contribuir é a falecida Tereza Santos(1930-2012), na época, assessora de Cultura Afro-Brasileira da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Sobre a abolição da escravidão no Brasil defende: “Não foi humanismo, foi uma questão econômica. Terminar com a escravidão não terminou com a discriminação”. O texto nos remete à Joaquim Nabuco, que em 1883, publica  “O Abolicionismo”:
“Porque a escravidão arruína economicamente o país, impossibilita o seu progresso material, corrompe-lhe o caráter, desmoraliza-lhe os elementos constitutivos, tira-lhe a energia e a resolução, rebaixa a política; habitua-o ao servilismo, impede a imigração, desonra o trabalho manual, retarda a aparição das indústrias, promove a bancarrota, desvia os capitães do seu curso natural, afasta as máquinas, excita o ódio entre classes, produz uma aparência ilusória de ordem, bem estar e riqueza, a qual encobre os abismos de anarquia moral, de miséria e destituição, que do Norte ao Sul margeiam todo o nosso futuro.” – NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. São Paulo: Publifolha, 2000. (Grandes nomes do pensamento brasileiro da Folha de São Paulo, p.49).



A matéria aborda também a exposição “Mostra do Redescobrimento”, que integrou as comemorações do V Centenário do Brasil. Dentre os treze módulos, dois trataram das contribuições da comunidade negra ao capital cultural do país: O Negro de Corpo e Alma e Arte Afro-Brasileira. O primeiro questionava a identidade do povo brasileiro através de uma reflexão sobre o negro na sociedade. O segundo procurava identificar as características estéticas da arte africana na arte brasileira, e entre outros recursos, a curadoria internacional trouxe peças das principais regiões que alimentaram a escravidão no Brasil: Golfo do Benim, Congo e Angola. Mais de cinco mil obras que ilustravam e problematizavam a história do negro no Brasil. Enxertamos aqui textos retirados do catálogo Para Uma história do Negro no Brasil, com textos de Marcus Venício Toledo Ribeiro, que joga alguma luz sobre o assunto:

“O Brasil, em razão de sua dimensão e da ausência de preocupação com a reprodução biológica dos negros, foi o maior importador de escravos das Américas. Estudos recentes estimam em quase 10 milhões o número de negros transferidos para o Novo Mundo, entre os séculos XV e XIX. Para o Brasil teriam vindo em torno de 3.650.000.


Diversos grupos étnicos ou “nações”, com culturas também distintas, foram trazidos para o Brasil. A Guiné e o Sudão, ao norte da linha do Equador, o Congo e Angola, no centro e sudoeste da África, e a região de Moçambique, na costa oriental, foram as principais áreas fornecedoras. Das duas primeiras vieram, entre outros, os afantis, axantis, jejes, peuls, hauçás (muçulmanos, chamados malês na Bahia) e os nagôs ou iorubás. Estes últimos tinham uma grande influência política, cultural e religiosa em ampla área sudanesa. Eram de cultura banto os negros provenientes do Congo e de Angola — os cabindas, caçanjes, muxicongos, monjolos, rebolos —, assim como os de Moçambique”(RIBEIRO, p. 9, 1988)



A jornalista, então, entrevista algumas celebridades, numa abordagem individualista, voltada para suas carreiras e muito pouco dedicada à história da   cultura negra. Teria sido uma grande contribuição mostrar que os entrevistados são raríssimas exceções em um país onde, segundo dados divulgados pelo IBGE em dezembro de 2015, os negros representam 54% da população do país. Adota um tom, em certos momentos, de exaltação do partido do Governo, que nos leva a um certo desconforto, para não dizer desconfiança, em relação ao texto.

Marcel Naves é o jornalista que escreve a matéria sobre religião. O título “O Sangue negro do Candomblé” já dá a linha do que está por vir não poupando palavras para ilustrar o quão dura foi a trajetória das religiões negras no Brasil e quantas pessoas morreram ao tentar mantê-las vivas. Além disso, há um conteúdo informativo sobre os costumes e crenças da religião, tendo carência apenas de um gancho que leve o leitor à saber mais do assunto caso tenha interesse.

Quem se interessa pelo que o país tem desenvolvido sobre cultura afro-brasileira, não deve deixar acessar o site Museu da Abolição, do Recife:
Imperdível também o site do Parque Quilombo dos Palmares, localizado em Alagoas, onde podemos fazer uma visita virtual e  aprender um pouco mais sobre nossa história:
Não perca a visita virtual à exposição “O corpo na Arte Africana”, uma realização da Fiocruz, realizada na Sala de Exposições do Museu da Vida, de setembro de 2012 a janeiro de 2013.
Aproveitando o embalo, sugerimos este texto maravilhoso de Ana Mae Barbosa sobre a Mostra do Redescobrimento:
TEXTO ORIGINAL: André Ramiro e José Victor Costa
TEXTO ADAPTADO: Elisa Canjani


ÍNDICE DE IMAGENS:
CHAMADA:
By WaynaQhapaq – English Wikipedia, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4438424
By ​English Wikipedia user Ukabia, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4438412
1. By Joaquim_nabuco_1878.jpg: Unknownderivative work: Kingpin13 (talk) – Joaquim_nabuco_1878.jpg, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=12906615
2. By Ji-Elle – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=19776603
3. By Siren-Com – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5321135
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Biblioteca Nacional. Catálogo da Exposição Para uma História do Negro no Brasil. 1988. Rio de Janeiro.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987.
NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. São Paulo : Publifolha, 2000. (Grandes nomes do pensamento brasileiro da Folha de São Paulo).
Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo. O Brasil de Todos os Negros. Revista Cultural, ano II, n. 13, maio/2000. São Paulo.

Universidade de São Paulo. Dossiê Povo Negro – 300 anos. Revista USP, n.28, dezembro/fevereiro 95/96. São Paulo

2. Educom desafia: Você Conhece a Arte Negra?

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