Por Alana Ramos e Bruna Pontes* As populações indígenas vivem novas realidades em suas aldeias. No interior do Brasil as diversas etnias experimentam possibilidades tecnológicas e culturais apoiadas pela escola indígena e por projetos sociais.
Foto: Sérgio Vale/Secom
O Brasil é o país com a maior diversidade cultural e linguística na América do Sul. Existem cerca de 181 línguas indígenas que identificam mais de 216 povos etnicamente diferentes. Cerca de 140 das línguas indígenas brasileiras se concentram na Amazônia Legal, 45 delas faladas apenas no Estado do Mato Grosso.
A Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT) possui com uma Faculdade Indígena Intercultural que apoia os índios em busca do empoderamento proporcionado pelo conhecimento.
A UNEMAT desenvolve projetos importantes com cursos de formação tanto de licenciatura quanto de bacharelado para estudantes indígenas, como também um projeto de informática. Nestes projetos, os índios em sua maioria são bilíngues, o que é importante para que eles possam manter a gestão de seus próprios projetos.
Foto: Mayke Toscano/ GEMT (14/11/2013)
Nas aldeias é ensinada a língua materna às crianças, preservando sua identidade cultural. A língua portuguesa é presente em muitos povos para que haja comunicação entre as partes e exposição de vontades e direitos das etnias, frente aos diversos agentes: representantes do governos, pesquisadores, entre outros.
Cada povo indígena vive uma cultura própria, com uma língua específica, costumes, estrutura política, organização militar, cosmovisão, religião. Historicamente, devido as tomadas de posse de terra, por parte dos colonizadores espanhóis e portugueses, que não respeitaram a organização política indígena, acabaram por sufocá-la a ponto de esta praticamente desaparecer na nova estrutura de governo implementada pelos “novos donos de terra”.
Os estudos antropológicos demonstram que a cada povo indígena corresponde uma língua. A língua, por sua vez, expressa diversidade de pensamento, de filosofia de vida, de costumes, de organização social, de estrutura educativa, religião. Para se falar corretamente de índios, é necessário situar o índio num povo determinado. Não existe o índio genérico. Existe, sim, o nambikwára, o Xavante, o Bororo. Cada tribo existe por si e é diferente de qualquer outra.” – João Carlos Vicente Ferreira em “Mato Grosso e seus Municípios. (FERREIRA, 2001, p148.)
O Projeto Tucum – Programa de Formação de Professores Indígenas para o Magistério, teve início no ano de 1996 e terminou em 2001. Foi um projeto que tratou com o devido respeito a diversidade social dos povos indígenas que ocupam a região territorial do Mato Grosso. Tratou-se do maior programa de educação escolar indígena no continente americano. Foi realizado com a parceria de 17 municípios, a FUNAI e ONGs como o Conselho Indígena Missionário, Operação Anchieta Nativa entre outras. Foi realizado com recursos do Banco Mundial, através do Programa de Desenvolvimento Agroambiental (PRODEAGRO). O Projeto Tucum atendeu 200 professores indígenas que atuavam diariamente com um universo de 4.500 alunos.
Ao concluir o Projeto Tucum, os participantes produziram um Trabalho Final em que apresentaram os resultados de suas pesquisas individuais. O livro “Sócio-Diversidade Indígena: Ensaios de Educação Escolar no Projeto Tucum” reúne alguns textos produzidos por autores indígenas, professores formados pelo Projeto Tucum que atuam nas escolas de suas aldeias. Os trabalhos foram organizados a partir dos temas: Mitos, Ritos e Arte; Terra e História; Ecologia e Saúde.
Nos anos 80, o termo Educommunication era designado pela UNESCO como sinônimo de Media Education, designando o esforço do campo educativo em relação aos efeitos dos meios de comunicação na formação. A Educomunicação, entre 1997 e 1999, surge a partir de pesquisas feitas pelo Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP), ressignificando o termo, que passou a designar o conjunto das ações que produzem o efeito de articular sujeitos sociais no espaço da interface comunicação/educação.
A partir de 1999, com pesquisas realizadas pelo NCE/USP foi concluído que a inter-relação entre a educação e a comunicação já acontecia e possuía uma “densidade própria” que se afirmava como um “campo de prática ou ‘intervenção social’ com grande potencial transformador” (SOARES, 1999). A exemplo disso, o Projeto Tucum que surgiu em 1996 – um ano antes do surgimento dos estudos feitos pelo NCE/USP – possuía em sua formação abordagens educomunicativas.
Os cursos do Projeto Tucum eram vinculados à UNEMAT, a qual era responsável por firmar parcerias com outras instituições de ensino superior. Tendo como objetivo principal propiciar a discussão e elaboração da proposta de escola em cada aldeia a partir da formação de professores pesquisadores com a capacidade de questionar e sistematizar conhecimentos, valores, habilidades, atitudes e valores históricos. Com um currículo focado na contribuição para a formação integral do participante como membro de seu grupo social e cultural, o Projeto Tucum seguia três eixos norteadores: Terra, Língua e Cultura.
Possuía como perspectiva a autonomia de seus integrantes para organizar seus próprios conhecimentos culturais, além de enfrentar os novos desafios advindos do convívio intersocietário. Os cursos elaborados tinham como pressupostos a afirmação ética, a valorização dos costumes, língua e tradição de cada povo.
Buscava também respostas para os problemas e expectativas das comunidades, compreendendo os processos históricos em que as comunidades indígenas e outras formas de sociedade estão mergulhadas. Para isso, a proposta era o estudo e a utilização das línguas indígenas no trabalho docente e em projetos relevantes para a vida prática e para o futuro de cada povo.
Buscava também respostas para os problemas e expectativas das comunidades, compreendendo os processos históricos em que as comunidades indígenas e outras formas de sociedade estão mergulhadas. Para isso, a proposta era o estudo e a utilização das línguas indígenas no trabalho docente e em projetos relevantes para a vida prática e para o futuro de cada povo.
Foto: Chico Valdiner/ GEMT (30/12/2013)
Barra do Bugres- MT, 30/12/2013- O Instituto de Desenvolvimento Humano de Mato Grosso (IDH-MT), certificou em Barra do Bugres, 65 índios nos cursos de Espanhol e Atendimento ao Público, nas modalidades masculino e feminino, os beneficiados são das aldeias Imutina e Bacalana.
Foto: Onofre Brito/ Secom (20/01/2014)
Rio Branco- AC, 20/01/2014- Formatura da primeira turma de professores indígenas em nível superior no Acre.
Com esse projeto, o ensino superior indígena deixou de ser apenas uma reivindicação, passando a ter um status de política pública no Mato Grosso, sendo considerada uma demanda específica de caráter permanente.
O Projeto Tucum se caracteriza como uma ação Educomunicativa pois, como Ismar de Oliveira Soares afirma em “Educomunicação – O conceito, o profissional, a aplicação – contribuições para a reforma do Ensino Médio”
A educomunicação, como uma maneira própria de relacionamento, faz sua opção pela construção de modalidades abertas e criativas de relacionamento, contribuindo, dessa maneira, para que as normas que regem o convívio passem a reconhecer a legitimidade do diálogo como metodologia de ensino, aprendizagem e convivência.(SOARES, 2011, p.45)
A valorização da pessoa indígena, o respeito à posição do indivíduo, e por outro lado, a abertura para o Outro, para o diálogo, para a capacidade de contextualizar problemas e encontrar soluções de interesse coletivo, tornam o projeto uma forma exclusiva e inédita de formação educacional do indígena.
A educomunicação posiciona-se de forma crítica, ante o individualismo, a manipulação e a competição. A cidadania vencendo a ditadura de mercado […] transformando as oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias em instrumentos de solidariedade e crescimento coletivo. (SOARES, 2011, p.95).
O Projeto Tucum ofereceu à comunidade indígena uma oportunidade real para a criação de um ambiente em que houvesse uma revisão e uma mudança total das relações de comunicação nas regiões – uma educação escolar indígena aberta, democrática e não excludente. Estes são pontos de partida para que aconteçam novas relações interculturais pautadas pelo respeito aos Povos Indígenas e a seus diversos projetos e modo de viver.
Sobre a atividade Caça ao tesouro no NCE
Tesouros encontrados no NCE:
1)LIVRO – Sócio-Diversidade Indígena: Ensaios de Educação Escolar no Projeto Tucum
2)LIVRO – Mato Grosso e seus Municípios – João Vicente Ferreira
A atividade “Caça aos Tesouros do NCE” proposta pela disciplina AACC I, se iniciou com o sorteio do tema. Um dos participantes do grupo esteve no NCE e obteve como tema do desafio:
A proposta de visitar o NCE em busca de “tesouros” trouxe a oportunidade de conhecer diversos materiais relevantes para inúmeros assuntos. Porém, como não há um sistema digital de busca e pelo fato de o acervo ser bastante extenso, houve certa dificuldade em encontrar materiais relacionados ao tema sorteado.
O sorteio do tema do desafio aconteceu no NCE no dia do “Caça ao Tesouro”, o que propiciou que a busca por materiais não tivesse um viés preestabelecido no que se refere aos caminhos a se seguir e aos materiais escolhidos de acordo com o tema.
*Estudantes do curso de Licenciatura em Educomunicação
*Estudantes do curso de Licenciatura em Educomunicação
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REFERÊNCIAS
ZORTHÊA, Kátia Silene; MENDONÇA, Terezinha Furtado. Sócio-Diversidade Indígena: Ensaios de Educação Escolar no Projeto Tucum. Brasil, 2003. 245 p.
FERREIRA, João Carlos Vicente. Mato Grosso e seus Municípios. Cuiabá: Buriti, 2001. 660 p.
MORI, Angel Corbera. Os Desafios da Pesquisa em Línguas Indígenas no Brasil. CELCAM-IEL/UNICAMP.
SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação: contribuições para a reforma do ensino médio. São Paulo: Paulinas, 2011. 101 p.
Possibilidades tecnológicas na educação indígena