Em 2005, evento histórico discutiu a presença dos negros na mídia. Será que algo mudou desde lá?

Por Pamela dos Reis Vieira e Marcela Viana Riccomini

A atividade “Caça ao tesouro no NCE” nos desafiou a encontrar no acervo do NCE um evento sobre a representatividade do negro nos meios de comunicação, e o Encontro Internacional África Brasil foi o escolhido, que aconteceu em São Paulo em 2005.

O evento reuniu jornalistas, comunicadores, pesquisadores, educadores, lideranças políticas e agentes culturais para analisar como é feito o recorte étnico e racial em práticas midiáticas e discutir a implementação de políticas públicas voltadas a igualdade racial na América Latina e na África.

A análise de dados de 2005 sobre a representatividade do negro na mídia nos mostrou a ausência do tema em veículos noticiosos (“em um universo de cerca de 100.000 textos jornalísticos, pouco mais de 3% abordavam questões de raça/etnia”) e a importância do estímulo a maior visibilidade desse assunto nos meios de comunicação, visto que pautas mais valorizadas pela mídia tendem a fazer parte do rol de políticas públicas a serem debatidas e implementadas no país. O artigo de Dennis de Oliveira (Universidade Metodista de Piracicaba e Universidade de São Paulo) e  Maria Ângela Pavan (Universidade Metodista de Piracicaba), divulgado no site do evento, abordou a temática com um texto sobre a novela “Da cor do pecado”, conhecida por ter sido a telenovela brasileira com a primeira protagonista negra da história. No entanto, a partir de uma análise empírica de cenas, algumas problemáticas apareceram sobre a forma como a mulher negra foi representada. O próprio título da novela e a música tema trazem uma ideia da pele negra como sendo um “pecado”, uma tentação ao homem branco. Na época, organizações de mulheres negras fizeram uma carta de protesto à Rede Globo, expondo estes pontos de vista.

Cena da novela ‘Malhação’ com PM racista (TVGlobo/Reprodução)

Após 12 anos do evento é possível notar alguns avanços, a atual temporada da novela Malhação também da rede globo tem protagonistas negros e aborda assuntos como o abuso da polícia militar com jovens negros e casos de racismo com um casal inter racial. Diferente do que aconteceu em “Da cor do Pecado”, a Malhação está se preocupando em trazer, além de protagonistas negros, denúncias de como é a realidade do jovem negro na sociedade brasileira. O artigo já mencionado também revelou que o aumento de representatividade negra na televisão brasileira se dá por uma  nova classe média formada cada vez mais por afrodescendentes que têm expectativas de consumo similares à classe média branca, mas  o consumo de produtos se torna menor quando se veem  representado na divulgação do mesmo. Todavia, mesmo com a  intenção de representar esta nova classe média, vê-se nos dados numéricos do ano do evento (2005) que os negros estavam em menos de 10% dos personagens inclusive da novela “Da Cor do pecado” que vinha com uma proposta inovadora até então, de dar um papel principal a uma jovem negra. A educomunicação tem como um de seus papéis principais ajudar, de maneira a reeducar as novas gerações, visto que em 2004 segundo o Atlas Racial Brasileiro, PNUD, a população negra é numericamente maior na taxa de analfabestismo e menor no grau de escolaridade. O negro deve ter acesso à educação para que então haja uma consciência de seus direitos negados e uma reestruturação da sociedade de maneira mais igualitária. E a educomunicação entra com o papel de tornar perceptível o racismo institucional vivido e então alterar os rumos sociais futuros.

Africa Brasil 2.jpg


Uma prática educomunicativa que pôde ser observada durante o evento foi a cobertura jornalística feita por alunos da rede pública do ensino de São Paulo. Os estudantes foram previamente capacitados por oficinas fornecidas pelo NCE, além de terem sido estimulados a fazer leituras críticas e produzir textos sobre a imagem de negros na literatura infanto-juvenil. Durante esse processo foi possível observar a transformação desses alunos de receptores para emissores de informação, pois eles tiveram a oportunidade de produzir em cima do seu ponto de vista sobre o evento, possibilitando um empoderamento dos meios de comunicação. Os participantes encerraram o evento propondo o incentivo pesquisas em faculdades de comunicação sobre o papel e a responsabilidade da mídia na promoção da igualdade dentro da diversidade racial, étnica e cultural; a consolidação das relações entre as empresas de comunicação da África e do Brasil para possiveis trocas enriquecedoras para as culturas desses povos;  a criação de programas de capacitação para profissionais da mídia, habilitando-os para a promoção da igualdade para além das fronteiras raciais, étnicas, culturais e de gênero; propuseram também outras ações (podem ser lidas com detalhes no documento final do evento http://www.usp.br/nce/africabrasil/paginas/docfinal.htm) que servirão de base para que a mídia represente melhor a diversidade dos povos causando um aumento de politicas públicas mais eficazes na remoção da institucionalização do racismo na sociedade.
*Estudantes do curso de Licenciatura em Educomunicação
Em 2005, evento histórico discutiu a presença dos negros na mídia. Será que algo mudou desde lá?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *