Educomunicação pode ser alternativa na luta contra o preconceito de gênero e étnico-racial
Por Lara Chaud Palacios Marin Sandra Cristina Cabral dos Santos
“Pensar gênero sem pensar na questão étnico-racial, principalmente no Brasil, simplesmente não é possível! Basta vermos os fatos: somos um dos países que mais matam pessoas trans e que está entre os que mais registram feminicídio.”
Com esses conceitos, a professora da USP, doutora em Ciências da Comunicação, Cláudia Lago, abriu o último evento do Encontros Abertos realizado pelo NCE – Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo, com o tema “Gênero: Questões Étnico-raciais e Educomunicação”, no dia 23 de novembro, no prédio da ECA. Tal evento fez parte também da Semana de Consciência Negra na ECA.
Durante sua exposição, Lago vinculou as questões de gênero e raça apontando vários quesitos, entre eles o fato de que, por exemplo, na sociedade brasileira vem sendo registrado paulatinamente decréscimo na morte violenta de mulheres brancas em contraponto ao aumento de mortes de mulheres negras.
Neste sentido, de acordo com a Profa. Dra. Cláudia Lago, a educomunicação tem grande contribuição a dar, se utilizada pelos gestores de escolas e professores do ensino básico, para a reversão perversa desse quadro, bem como do esclarecimento de crianças e jovens, a fim de que o preconceito em geral seja reduzido no País.
Contudo, lamenta que isso ainda não seja realidade: “A educomunicação deve ensinar a diversidade, a aceitação do outro, mas, infelizmente, a escola pública não está pronta para isso. Ainda trata de forma hegemônica ambas as questões, reforçando as regras que vão contra a aceitação da diversidade”, garante a especialista.
Após a explanação de Lago, foi a vez da mestre em Meios e Processos Audiovisuais Mariana Queen Nwabasili apresentar seu trabalho intitulado Mediações das críticas a Xica da Silva em 1976: os debates sobre (representação dos) negros no Brasil e refletir sobre as representações de mulheres negras na mídia.
A partir do livro de João Felício dos Santos e filme de Cacá Diegues sobre Xica da Silva, a convidada analisou enunciados dessas obras, contextualizando-as e contando sobre suas repercussões na época. Sobre o filme, os comentários positivos eram elaborados em contextos muito específicos: jornais hegemônicos em circuito do Cinema Novo, próximos desse nicho intelectual. Os negativos, em jornais alternativos, feitos por críticos “não-profissionais”, como Beatriz Nascimento, historiadora negra que questionou ambas as representações, sendo, criticada pelos cineastas. Marina Nwabasili analisou tal episódio, contextualizando o movimento negro da época e mostrando o quanto sua visão sobre as obras eram categorizadas como ideológicas, tirando, portanto a legitimidade de seu discurso.
Por ser dirigido por um homem branco, a mestre também ressaltou a abordagem e visão de Cacá Diegues, mostrando o quanto tal perspectiva representa determinada visão sobre homens e mulheres. “Quando as mulheres vão ao cinema, compactuam ou discordam desse olhar. Ele costuma trazer a representação da mulher branca desejada e da mulher negra excluída, violentada. A discordância da representação é uma forma de criar novas imagens. Quando discordam, manifestam o desejo de olhar, de ocupar o lugar de potência”. De acordo com a pesquisa de Marina Nwabasili, foi isso o que fez Beatriz Nascimento.
Após a reflexão sobre o olhar da mulher, sobretudo da mulher negra, enquanto espectadora de suas representações, Marina Nwabasili encerrou sua fala questionando: “Como pensar o lugar social dos atores e espectadores como legítimos para entender o que está em jogo na representação e representatividade no cinema e mídia?”
A cobertura de vídeo deste encontro, estará disponível em breve.
Educomunicação pode ser alternativa na luta contra o preconceito de gênero e étnico-racial