Acadêmica estuda ações educomunicativas em escolas de Mato Grosso

Foto: Da esquerda. Prof. Claudemir Viana (ECA USP), Prof.Aclyse de Mattos (UFMT)
Selma Alves (autora da pesquisa), e Prof. Benedito Diélcio Moreira (orientador), da UFMT

 

Conhecer e compreender de que maneira conceitos educomunicativos oportunizados pelo projeto Educomunicação, Ciência e Outros Saberes: um estudo do trabalho colaborativo e compartilhável em narrativas transmídias, executado em quatro escolas estaduais de Mato Grosso, auxiliam os professores a encontrar e apontar caminhos que estimulem o desenvolvimento do espírito crítico e de utilizações criativas dos jovens no uso das tecnologias digitais. Esse é um dos objetivos principais da dissertação de mestrado intitulada “Comunicação e cultura digital na educação escolar: a relação dos professores do ensino básico com as novas tecnologias”, da acadêmica Maria Selma Alves, do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Para desenvolvimento do projeto de pesquisa e estudo de caso, a acadêmica selecionou duas escolas rurais e duas escolas urbanas de Ensino Integral, dentre as nove escolas estaduais participantes do projeto-piloto de Educomunicação, executado por cinco professores e 20 alunos dos cursos de Comunicação Social, habilitações em Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Radialismo/Cinema e Audiovisual, em 2015 e 2016, nos municípios de Cuiabá, Santo Antônio de Leverger, Jangada, Acorizal, Jaciara e Várzea Grande. Esse projeto-piloto foi resultado de uma proposta de intervenção e pesquisa de membros do Núcleo de Estudos Comunicação, Infância e Juventude, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), executada em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc/MT), a fim de promover trabalhos colaborativos e a elaboração de produtos educacionais na rede estadual de ensino a partir da utilização das tecnologias digitais no ambiente escolar.
A escolha das escolas pesquisadas, explica a acadêmica, foi devido à presença de alguns pontos comuns, apesar das localizações distintas e diferentes possibilidades de acesso às tecnologias digitais. As duas escolas rurais estão localizadas a mais de 100 km de distância da Capital, Cuiabá, enfrentam dificuldades de acesso à internet; os laboratórios são precários, insuficientes para atender alunos e professores, mas os alunos possuem aparelhos celulares e encontram, fora da escola, meios de acessar e participar de suas redes sociais preferidas. Já as duas escolas urbanas têm suas localizações privilegiadas, em Cuiabá, laboratórios melhor equipados do que as rurais, mas igualmente deficitários no que diz respeito ao atendimento aos alunos e professores.
Com acesso limitado e precário na rede de internet da escola, os alunos utilizam seus próprios recursos para se conectarem e participarem do universo virtual. Apesar disso, as quatro escolas participaram ativamente de todas as atividades previstas no projeto de Educomunicação, como as oficinas, aulas de campo e eventos de educomunicação com a participação da comunidade escolar.
De acordo com a acadêmica, a partir da análise de entrevistas exploratórias individuais, de questionários aplicados com professores e alunos das quatro escolas, e da discussão do grupo focal realizado em uma das escolas rurais, “foi possível perceber que tanto os professores da Capital como os professores do interior de Mato Grosso reconhecem a importância do papel das novas tecnologias no processo de ensino e aprendizagem, mas ainda necessitam de mecanismos que possam auxiliá-los, a fim de potencializar o uso desses recursos”.
Construção coletiva
Para Selma Alves, os professores pesquisados têm consciência da necessidade de mudanças nas práticas pedagógicas tradicionais e de buscar novos caminhos para incorporar, por exemplo, a aplicação dos celulares, das lousas digitais e dos computadores na dinâmica da sala de aula para além do uso meramente funcional dessas ferramentas. “E a Educomunicação claramente pode ajudá-los nesta jornada”, afirma.
Essa nova maneira de ensinar, promovendo o trabalho colaborativo, a gestão participativa, dentre outros pressupostos educomunicativos, argumenta a acadêmica, “pode contribuir muito para que situações consideradas problemas, como a participação do aluno, falta de concentração, evasão, se transformem em solução”. O que ocorreu efetivamente, segundo Selma Alves, no caso da execução do projeto de Educomunicação na escola rural pesquisada, localizada próximo à Serra das Araras e reúne alunos de 12 comunidades rurais. “A beira do fechamento no início do projeto, em 2015, no ano letivo de 2018 foi preciso a escola transformar a sala dos professores em sala de aula para abrigar mais uma turma de alunos. Na verdade, para que isso ocorresse, foi fundamental acreditar no potencial criador e transformador da comunidade escolar, dos professores, dos alunos, dos gestores e da comunidade local”, conta.
O estudo permitiu à acadêmica perceber que a criação e o fortalecimento de um ecossistema comunicativo, ligados a uma prática educomunicativa que promova efetivamente o diálogo dentro da comunidade escolar, podem resultar em avanços consideráveis para as escolas. “A partir do momento que a escola abraçou o projeto e os alunos o acesso às práticas pedagógicas educomunicativas, os resultados foram visíveis. No caso dessa escola, a redução da evasão e a autoestima elevada. Antes distantes, agora os professores estão mais próximos dos alunos, conforme depoimento dos participantes do grupo focal”, explica.  
Para a acadêmica, o atendimento aos professores e alunos onde o projeto ocorre e a formação dos educadores parecem influir significativamente na qualidade e continuidade das ações educomunicativas. No caso das escolas pesquisadas, a enorme rotatividade de professores, diante do elevado número de contratos temporários, dificulta a formação de uma equipe escolar fixa com objetivos e valores compartilhados, entre os profissionais e com a comunidade atendida.    
Com o tempo, observa a acadêmica, o projeto de Educomunicação nas escolas de Mato Grosso “pode ganhar maturidade e, de forma articulada, gerar uma massa crítica importante para a transformação da própria cultura da Educação e disseminação de novos projetos”. No entanto, para que isso ocorra, “serão necessárias políticas públicas que apoiem as experiências já trabalhadas, de modo que os projetos não fiquem à mercê de cortes orçamentários e vontade política”, prevê.
Mais do que simples metodologias ou disciplinas, de acordo com o estudo, “é necessário compreender que projetos de Educomunicação constituem uma proposta de transformação da forma como as escolas trabalham o ensino e a aprendizagem. São processos que demandam tempo e, na maioria das vezes, mais do que o período do mandato de quatro anos de uma gestão de governo”, conclui.
A defesa pública da dissertação “Comunicação e cultural digital na educação escolar: a relação dos professores no ensino básico com as tecnologias digitais” ocorreu no dia 31 de julho de 2018. A banca examinadora foi composta pelos professores doutores Claudemir Edson Viana, da Universidade de São Paulo (USP), Aclyse de Mattos, da UFMT, e Benedito Diélcio Moreira (orientador), da UFMT.  

 

Acadêmica estuda ações educomunicativas em escolas de Mato Grosso

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