“Dar voz àqueles que não têm”: Richard Romancini é o entrevistado de maio pelo NCE

Prof. Richard Romancini em entrevista para o NCE.

A relação entre mídia e a educomunicação foi o tema da entrevista com Richard Romancini, doutor em ciências da comunicação e professor adjunto da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP. Toda última sexta-feira de cada mês, o NCE traz educadores e profissionais da Educomunicação para refletir novos caminhos, atuações e desafios da área.

Durante a entrevista, Richard comentou sobre a relação entre os meios de comunicação e a educação, a influência da mídia ao longo da história e os desafios da educomunicação na era da tecnologia.

NCE: A Educomunicação passa por um processo de transformação e inovação nos dias de hoje?

Richard Romancini: “Esse é um processo relacionado à transformação social. Há dez anos atrás, quem produzia mídia, quem compartilhava mídia? Nos dias de hoje, qualquer um é capaz de produzir, as pessoas estão se comunicando o tempo todo, compartilhando conteúdo o tempo todo. O que não era tão viável, hoje é muito mais fácil. E isso traz, para nós da Educomunicação, uma oportunidade de comunicação mais horizontalizada. Agora, em tese, todo mundo é um receptor e torna um desafio tornar o emissor um ser responsável, que possa emitir e compartilhar conteúdos interessantes, com responsabilidade.”

Quais iniciativas em gestão da comunicação podem facilitar a inserção da educomunicação em alguma instituição ou projeto?

“A principal seja a abertura ao diálogo, em dar voz àqueles que não têm. Nós sabemos que a Educomunicação não consiste em só ouvir os comentários, mas em abrir o diálogo, a troca, a abertura de um processo mais participativo de comunicação. E nesse contexto, outro aspecto importante é a formação, de como fazer uma comunicação interessante, boa, ética e verdadeira. Isso pode parecer trivial, mas não é e o educomunicador atua nesses processos. Ter um educomunicador atuando em um projeto dessa natureza auxilia na verdade e na boa comunicação.”

Como a mídia pode ser aplicada no processo educativo de forma correta ou eficaz? Quais contribuições ela pode trazer?

“Ela pode ser aplicada o tempo todo. A comunicação, em geral, é o ar, é tão evidente que a gente não vê. O processo educativo é, o tempo todo, comunicativo. Se pensarmos em mídia, temos a mídia escrita, o livro didático, a televisão, o rádio, e esses suportes entraram na escola. Por outro lado, a gente tem uma coisa extremamente importante que é um ambiente informativo fora da escola, que faz com que crianças e jovens cheguem ao ambiente escolar com um conjunto de informações, de até conhecimentos, muito diferente do que se tinha algumas décadas atrás. Então, o que se tem é a crise da educação. A escola era o grande ponto de estabelecimento de saber da sociedade e hoje ela se depara com o ambiente midiático como um quarto poder, uma nova influência, com outro tipo de expectativa e saber do aluno.

A comunicação sempre impactou a educação, ela é profundamente comunicacional, e hoje, as redes sociais oferecem um meio muito rico e diferencia os estudantes que vão para a escola hoje. O aluno hoje quer falar, quer produzir.”

Quais contribuições a mídia fez para a educação ao longo da História?

“Se pode pensar a relação mídia e educação em três dimensões. A primeira é quando o professor usar a mídia para educar, a mídia como uma tecnologia, como o professor que usa o cinema. Outra dimensão que a meu ver tem surgido hoje em dia é educar para a mídia, ou seja, fazer com que o estudante entenda uma série de questões que estão relacionadas à mídia e sua vida, a mídia e a sociedade, que são absolutamente fundamentais. Ler um jornal com o devido senso crítico, perceber os interesses que estão por trás de uma notícia, perceber quando uma notícia é verdadeira e quando ela não é, isso é uma educação para a mídia.

Por fim, nós temos outra dimensão importante que é educação pela mídia. Educar pela mídia é quando o professor, ao propor para os seus alunos um projeto que envolva mídia como fazer um filme, um podcast, vai estar trabalhando conteúdos muito importantes, como trabalho em equipe, pesquisa e até conteúdos disciplinares, como matemática. Para uma pessoa mais leiga, isso pode não ter nenhuma relação, mas ao fazer uma matéria sobre algum assunto, ele tem que entender valores, interpretar o mundo e relacionar os conteúdos com a realidade. Nenhuma dessas dimensões é excludente, elas têm características e conceitos semelhantes e se relacionam entre si.”

“Dar voz àqueles que não têm”: Richard Romancini é o entrevistado de maio pelo NCE

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