Agora doutora, Paola Prandini defendeu sua tese na tarde de 11 de maio de 2022, no programa de pós-graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Com a Tese “Conexão Atlândica: branquitude, decolinialitudes e educomunicação em discursos de docentes de Joanesburgo, de Maputo e de São Paulo”, Paola Prandini, pesquisadora colaboradora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP (NCE), fincou um marco na evolução da epistemologia da Educomunicação, e certamente não ficará só nisso. Desdobramentos certamente virão como palestras, cursos, publicações etc e, com isso, a Educomunicação e toda a sociedade saem ganhando.
Afinal, ficou constatado, em seu trabalho, que o pensamento decolonial precisa da Educomunicação como paradigma norteador das ações necessárias para promover a reeducação da sociedade brasileira, no sentido de dimuir os efeitos da ideologia de branquitude que vem garantindo a supremacia da raça branca, mesmo em territórios onde a presença de negros e negras, ou ainda de mestiços, é majoritária e não o contrário.
Por isso, após pesquisas realizadas em três cidades: São Paulo, Joanesburgo (África do Sul) e Maputo (Moçambique), Paola Prandini apresenta o conceito de decolonialitudes para indicar ações (e atitudes) na sociedade que busquem a reformulação sobre a concepção e a percepção que temos sobre nossa nação, nossas culturas, nossas formas de ser e de viver em sociedade. É também uma forma de agir politicamente na sociedade, de forma consciente e crítica, e comprometidao com o coletivo e seus princípios humanistas como democracia, respeito e luta contra as desigualdades.
A autora demonstra que não é só uma questão de buscar a diversidade como princípio. É também o fato de reconhecermos as diferenças e respeitá-las, assim como perceber que é nos processos comunicativos de trocas, de diversas maneiras, que significados e sentidos são tecidos.
Sendo assim, Prandini amplia nossa percepção sobre o racismo que persiste nas cidades observadas, seja por desvendar formas de o status quo ser mantido, onde a minoria branca desfruta de privilégios e alimenta uma prática de branquitude que permita isso. Em outra perspectiva, na tese, a autora confere a este termo exatamente a tomada de consciência a respeito, somada às atitudes desejadas para ajudar na transformação da vida em sociedade para melhor, e para todos, todas e todes.
Daí que pensar em ser esta uma ação coletiva, numa rede de trocas e complementaridade entre sujeitos e sujeitas que vivem na sociedade e que participam de ecossistemas comunicativos nos quais compartilham sentidos, significados, enfim, veio a tese a apresentar outro conceito interessante, a Educomunidade. A ideia é ressaltar o reconhecimento de valores africanos e afrodiaspóricos, bem como ameríndios, que têm práticas sociais que promovam a valorização e o fortalecimento das trocas e a mobilização entre as pessoas envolvidas num projeto em que o princípio do respeito ao coletivo, traz a mente sobre uma Educomunicação que valoriza isso e recupera práticas e imprime intervenções inovadoras, com potencial inclusive de representar o modus operandi para construirmos o pensamento decolonial, e assim colaborar para implementação de conteúdos, pesquisas, profissionais formadas e formados neste campo de trabalho, eventos, e assim por diante, especialmente preocupado em levar tudo isso até as escolas desses países onde a pesquisa foi realizada, e, na verdade, à toda sociedade mundial.
A tese foi aprovada pela banca avaliadora com distinção e, em breve, estará disponível por meio do acesso ao banco de teses da CAPES e pelo sistema Dedalus da USP.