Junto com essas escolas será construído o curso EAD a ser disponibilizado no AVAMEC
Por Sofia Lanza
No dia 7 de fevereiro de 2025, foi realizado o primeiro encontro da turma experimental do curso “Educomunicação socioambiental: precisamos conversar sobre emergência climática nas escolas”.
Sediado no Sesc Consolação, o evento contou com a presença de muitos parceiros e participantes que, ao final de cada semana das aulas assíncronas em um ambiente virtual, o Moddle Extensão da USP, se encontrarão presencialmente para momentos de diálogo e mão na massa.
O curso é uma ação de pesquisa e logo nas apresentações os organizadores deixam bem claro: “Vocês aqui não são cobaias, são construtores de conhecimento junto com a gente, pesquisadores”. Essa proposta de pesquisa se mostra nas dinâmicas de discussão, atividades integrativas e registro de anotações ao longo do curso em um diário de campo.
Assim, cada educador(a), ao trazer seu repertório, ideias, dúvidas, contexto socioeconômico, cultural e de suas vivências, torna o ambiente cada vez mais rico, aprimorando o curso para próximas edições e tornando sua metodologia cada vez mais dialógica e crítica, apta a discutir diferentes questões da emergência climática.
Regiane de Paula Santana, da EMEF Professor Carlos Pasquale, no Itaim Paulista, conta como a necessidade de discussão das mudanças climáticas afetam seu cotidiano. “Estou com uma expectativa boa para o curso porque eu venho de um lugar que está sofrendo com mudança climática. Muitos dos meus alunos moram na beira do córrego, e a gente não tem a fala de emergência climática, de educação ambiental. Não tem coleta seletiva, descarte correto de resíduos. Então se a gente não se educa e não vai pesquisar, a gente continua sofrendo com isso”.
Esse ambiente plural é citado por Eduardo Murakami, do Núcleo de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME-SP) em sua fala inicial, onde avalia a força do projeto. “Acho que aqui temos uma grande potência, quando vários segmentos se unem em prol de uma educação mais qualificada, que passa pela educação ambiental e que toque nas questões de educomunicação e clima”.
E essa diversidade se mostra no perfil de professores(as) inscritos(as) para fazer o curso. Dos mais recorrentes, como professores(as) de Português e Ciências, até os que estão em menor número, como os(as) docentes de Educação Física, que buscam ferramentas para trabalhar a educação climática em suas aulas.
“Normalmente a gente vê professores de Biologia, de Ciências, pra falar sobre meio ambiente. Mas o clima e Educação Física têm tudo a ver também. O clima é saúde, a gente precisa dele pra sobreviver. O meio ambiente é o nosso maior território de trabalho, por isso pretendo levar a discussão de mudanças climáticas para minhas aulas”, conta Roberta Nascimento dos Santos, da EMEF Rosangela Rodrigues Vieira, na Penha.
As práticas educomunicativas abordadas no curso também oferecem a professores(as) de todas as matérias ferramentas para combater a desinformação, muitas vezes presentes em discussões em sala de aula. Uma das participantes, Aurilene Matias Luz, professora de Ciências da EMEF Eliane Benute Lessa Ayres Gonçalves, Profa. Nany Benute (Pirituba – Jaraguá), conta que muitas crianças já chegam com informações falsas que viram na internet.
“Essa questão da terra plana grita na sala de aula. Quando a gente tava falando de aquecimento global, eles falam que é invenção, que é contra capitalismo, que é coisa de comunista”. “Eles veem muita coisa no celular e ter acesso à informação é bom, mas tem que saber a fonte e eles ainda não têm essa maturidade. É um desafio ensinar o caminho certo, fazer essa mediação, então eu vim no curso pra isso”.
E o que é o projeto Educom & Clima?
O projeto “Como a Educomunicação pode ampliar e qualificar as práticas de Educação Ambiental Climática na Educação Básica no Brasil?”, ou “Educom & Clima”, parte da importância de se discutir a emergência climática no dia-a-dia e de se pensar ações de combate, rumo à construção de um futuro mais justo e sustentável.
“Para essa missão a educomunicação se apresenta como uma prática inovadora, que parte do diálogo em uma abordagem que estimula o pensamento crítico, a criatividade e a participação ativa dos/as estudantes na busca por soluções para a crise climática”, como na proposta feita pelo grupo e disponível no site.
Está é uma iniciativa do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-NCE/ECA/USP, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima-MMA, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo -SME- SP, o Programa Cemaden Educação do Ministério da Ciência e Tecnologia-MCTI, o Movimento Escolas pelo Clima, a Articulação Nacional de Políticas Públicas em Educação Ambiental (Anppea), a Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação-ABPEducom, o Grupo de Acompanhamento e Estudos em Governança Ambiental – GovAmb, o Sesc São Paulo e a Reconectta, apoiada pelo Programa de Pesquisa em Políticas Públicas-PPPP da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Uma colaboração que garante a participação de especialistas em educação, comunicação e políticas públicas, além de proporcionar a aplicação prática da pesquisa em escolas da rede municipal.
“As práticas educomunicativas podem contribuir para que as comunidades escolares assimilem o conhecimento sobre a emergência climática de forma crítica e criativa, promovendo ações locais, com condições para participar de forma ativa do enfrentamento à emergência climática e para a construção de um mundo mais justo e resiliente”.