MAS, AFINAL, O QUE É EDUCOMUNICAÇÃO?
Profº Dr. Ismar de Oliveira Soares
Coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP
Num dos encontros promovidos pelo projeto Educom.rádio, em São Paulo, no primeiro semestre de 2004, uma cursista procurou a articuladora para perguntar-lhe: – Afinal, o que é Educomunicação?
Em seguida, explicou a razão de sua dúvida: tivemos muitas palestras, algumas sobre comunicação e outras sobre assuntos relacionados aos temas transversais. Tivemos workshops e oficinas sobre produção radiofônica. Tudo muito interessante, mas não ficou claro o que tem tudo isso a ver com a falada educomunicação…
A articuladora logo retrucou:
– Mas você não se lembra da palestra do Prof. Ismar, na reunião conjunta no Liceu Coração de Jesus, no dia de março?
– Já faz tempo! disse a professora, dando a entender que faltava um elo de conexão entre o que fora dito no início do curso e o que passou a ocorrer depois.
A indagação da professora preocupou-me, pois implantar a educomunicação nas escolas públicas do Município de São Paulo como filosofia e metodologia de trabalho é justamente o objetivo de nosso curso. Para que fique claro sobre o que estamos falando, recordo, para a professora que manifestou sua dúvida, bem como para todos os cursistas do Educom.rádio, que, para o NCE-ECA/USP, a Educomunicação define-se como um conjunto das ações destinadas a:
1 – integrar às práticas educativas o estudo sistemático dos sistemas de comunicação (cumprir o que solicita os PCNs no que diz respeito a observar como os meios de comunicação agem na sociedade e buscar formas de colaborar com nossos alunos para conviverem com eles de forma positiva, sem se deixarem manipular. Esta é a razão de tantas palestras sobre a comunicação e suas linguagens);
2 – criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos (o que significa criar e rever as relações de comunicação na escola, entre direção, professores e alunos, bem como da escola para com a comunidade, criando sempre ambientes abertos e democráticos. Muitas das dinâmicas adotadas no Educom apontam para as
contradições das formas autoritárias de comunicação);
3 – melhorar o coeficiente expressivo e comunicativo das ações educativas (Para tanto, incluímos o rádio como recurso privilegiado, tanto como facilitador no processo de aprendizagem, quanto como recurso de expressão para alunos, professores e membros da comunidade);
A Educomunicação necessita que sejam observados alguns procedimentos sem o quais fica irreconhecível, entre os estes:
a) É necessário prever e planejar \’conjuntos de ações\’, no contexto do plano pedagógico das escolas, e não ações isoladas (uma ação isolada não modifica as relações de comunicação num ambiente marcado por práticas autoritárias de comunicação);
b) Todo planejamento deve ser participativo envolvendo todas as pessoas envolvidas como agentes ou beneficiárias das ações (por isso, convidamos os professores, alunos e membros das comunidades a desenvolverem planejamentos conjuntos);
c) As relações de comunicação devem ser sempre francas e abertas (a educomunicação busca rever os conceitos tradicionais de comunicação, como se existisse apenas para persuadir ou fazer a boa imagem dos que detêm poder e fama. Aqui, a comunicação é feita para socializar e criar consensos);
d) O objetivo principal é o crescimento da auto-estima e da capacidade de expressão das pessoas, como indivíduos e como grupo. Aliás, este é o grande objetivo também do Projeto Vida, que sustenta e dá o suporte necessário para que o Ecucom.rádio exista e se desenvolva plenamente.
– E o rádio, professor, onde fica? Pode alguém perguntar.
Ao que respondo:
– Existe um recurso da comunicação mais versátil e mais democrático, em seu uso e funções, do que o rádio?
– Se o leitor ou leitora ainda tiver dúvidas sobre os objetivos do Educom.rádio e sobre o conceito de educomunicação, certamente os colegas e os próprios estudantes poderão ajudar a responder. Afinal, somos uma comunidade de aprendizes!