O PERFIL DO EDUCOMUNICADOR
Ismar de Oliveira Soares
Comentamos neste artigo dois fatos ocorridos recentemente e que apontam para a emergência de um novo profissional na relação entre Comunicação e Educação: uma pesquisa realizada pela Escola de Comunicações e Artes, entre 1997 e 1998, e um Fórum promovido pelo Ministério da Educação, em 1999.
A PESQUISA
Uma pesquisa desenvolvida pelo NCE – Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP, sob nossa coordenação, junto a um grupo de 178 especialistas de 12 países da América Latina, entre 1997 e 1998, apontou para a existência de uma nova figura profissional a que denominamos de Educomunicador.
Segundo a pesquisa, o Educomunicador é o profissional que demonstra capacidade para elaborar diagnósticos e de coordenar projetos no campo da inter-relação Educação / Comunicação. Entre as atividades que desenvolve, destacam-se:
a) a implementação de programas de “educação para a comunicação”, favorecendo ações que permitam que grupos de pessoas se relacionem adequadamente com o sistema de meios de comunicação.
b) o assessoramento a educadores no adequado uso dos recursos da comunicação, como instrumentos de expressão da cidadania.
O PERFIL EDUCOMUNICADOR
A pesquisa descobriu, inicialmente, que:
– 50% dos especialistas atuam nas universidades, dedicando-se à pesquisa sobre a inter- relação Comunicação / Educação.
– 47% atuam em escolas, dedicando-se a trabalhos voltados para um melhor conhecimento do sistema de comunicação, desenvolvendo, junto aos alunos, ou junto a outros segmentos da sociedade, trabalhos na linha da leitura crítica da comunicação ou da educação para a comunicação, quer através de algum projeto específico quer atravésda prática curricular normal;
– 30% dos entrevistados declararam que coordenam projetos de uso das tecnológica na educação, destacando-se entre estes usos, o emprego do jornal, do vídeo e do computador em sala de aula.
– 19% atuam em empresas e centros culturais, desenvolvendo atividades voltadas para o planejamento e implementação de projetos, sendo classificados como gestores da comunicação no espaço educativo.
– 7% do público pesquisado dedica-se a atividades voltadas para a área da comunicação cultural com ênfase na utilização das várias linguagens artísticas.
Todos defendem o uso de comunicação como um meio eficaz para ampliar as ações voltadas para a cidadania, o que inclui a melhoria da qualidade de vida e a ampliação das formas de expressão de todos os membros de uma comunidade.
A pesquisa informa, também, que predominam os especialistas do sexo feminino, à razão de 59% de mulheres para 41% de homens. Apurou-se que a tendência vincula-se de forma intensa às habilidades exigidas pelas funções operacionais atribuídas aos Educomunicadores. Deve-se levar em conta, também, a maior presença da mulher no
mercado de trabalho na última década.
Quando os entrevistados foram perguntados sobre como definiriam o trabalho do Educomunicador, a maioria o viu como um “professor” em sala de aula, quer desenvolvendo trabalhos de “análise crítica dos meios”, quer desenvolvendo “projetos tecnológicos na educação”. Isto é, um professor vinculado a uma das subáreas constitutivas do novo campo. Nesse sentido, há uma confluência entre o que pensam os entrevistados e o que afirma Géneviève Jacquinot, da Universidade Paris, para quem, L’éducommunicateur n’est pas un enseignant spécialisé chargé du cours d’éducations aux médias, c’ést un enseignant du 21ème siécle, que intégre les différents médias dans
ses pratiques pédagogiques.
No âmbito da atuação profissional, a grande maioria dos educomunicadores latinoamericanos entrevistados caracteriza-se, contudo, não como professores, mas como coordenadores e agentes culturais, facilitadores da ação de outras pessoas, preocupados em que estes possam elaborar os materiais a partir de suas necessidades e interesses,
tornando-se eles próprios produtores do conhecimento. Denota-se uma preocupação com a democratização do acesso à informação, utilizando-se a atuação profissional como meio para a formação de valores solidários e democráticos, para a transformação do ambiente em que vivem.
Dentre os “valores educativos” que dão suporte às “articulações” exercidas pelo profissional do novo campo, destacam-se:
a) a opção por se aprender a trabalhar em equipe, respeitando-se as diferenças;
b) a valorização do erro como parte do processo de aprendizagem;
c) a alimentação de projetos voltados para a transformação social.
Um grande número de respostas ao questionário aponta, por fim, como expectativa de resultado, a formação para a cidadania e para ética profissional, objetivando a educação do “cidadão global”.