As defesas realizadas no primeiro semestre de 2023 marcam o processo de obtenção de título de dois discentes do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP
Banca de doutorado de Felipe Gustavo Guimarães Saldanha Prof(a). Dr(a). Ismar de Oliveira Soares (Orientador); Prof(a). Dr(a). Elizabeth Nicolau Saad Correa (PPGCOM/ECA/USP), Prof(a). Dr(a). Claudemir Edson Viana (PPGCOM/ECA/USP), Prof(a). Dr(a). Marciel Aparecido Consani (PROLAM/USP), Prof(a). Dr(a). Rose Mara Pinheiro (UFMT e NCE) e Prof(a). Dr(a). Rafael Gué Martini (UESC) – Foto: Ana Beatriz
O primeiro semestre de 2023 foi marcado por boas notícias no campo da Educomunicação. Dois discentes do programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo (PPGCOM-ECA-USP), ligados ao Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP), realizaram as defesas de doutorado dentro do campo na USP.
As teses, que abordam os estudos de processos educomunicativos foram produzidas e defendidas pelos discentes Lilian Romão e Felipe Gustavo Guimarães Saldanha, ambos membros do NCE/USP e associados da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação ABPEducom (ABPEducom) sob orientação do professor doutor Ismar de Oliveira Soares. Sendo assim, as pesquisas são “A construção de lugares de escuta em práticas (edu)comunicativas para vozes historicamente silenciadas” de Lilian Romão e “Jornalismo escolar educomunicativo: uso de linguagens e procedimentos midiáticos pelo Programa Imprensa Jovem da rede municipal de educação de São Paulo” de Felipe Gustavo Guimarães Saldanha.
Para a produção de sua tese com enfoque na escuta em vozes historicamente silenciadas, a jornalista Lilian Romão conta que a reflexão sobre o assunto começou ainda durante o mestrado, quando os jovens participantes daquele estudo se mostravam incomodados que, ao acessar e exercer seu direito à comunicação em práticas educomunicativas, não conseguiam identificar escutas sociais para as suas vozes. “Os jovens falavam de uma pseudo-participação, isto é, quando se criam espaços de expressão para as vozes da juventude que não valorizam o conteúdo sobre o qual tratam essas vozes”, explicou.
Assim como as falas da juventude, várias outras vozes são socialmente silenciadas. Em sua análise, Romão entrevistou 17 diferentes organizações independentes de comunicação que desenvolvem atividades em realidades ou com públicos diversos – como territórios periféricos, favelas ou mesmo que tratam de temáticas indígenas e outras frentes relacionadas ao racismo ou etarismo, de pessoas com deficiência, LGBTQIA+, questões de gênero – que, de alguma forma, criam diferentes formas de escutar as pessoas e de criar comunicação.
A pesquisa definiu como objetivo observar de que maneira essas iniciativas independentes de comunicação têm fortalecido dinâmicas mais democráticas ao favorecer, em suas metodologias, que as diferentes vozes sociais – além de expressadas e escutadas – criem capacidade de interagir com as estruturas sociais na construção de direitos e no exercício da cidadania. Para isso, Lilian Romão em seu estudo aprofundou conceitos em torno do diálogo, entendendo os processos sociais de silenciamento, a construção do conceito do lugar de fala e o entendimento de como a educomunicação pode favorecer práticas de escuta social de vozes historicamente silenciadas.
Os estudos demonstraram que a escuta é um sistema complexo de percepções sociais aguçadas e, assim como um complexo sistema de edição, as pessoas e organizações selecionam as vozes presentes em suas vidas e história. “Somos citações das vozes que nos rodeiam. Cada pessoa escuta a mesma voz de diferentes formas e é escutada, mesmo falando o mesmo conteúdo, de formas diferentes também”, destacou Lilian durante sua apresentação. Tratou-se ainda que, a partir de diferentes mecanismos de poder, o sistema social é capaz de valorizar ou apagar as diferentes vozes existentes, de acordo com seus interesses.
Participaram da banca de avaliação : Jornalista Dr(a). Cicília Peruzzo, Prof (a). Dr(a). Patrícia Gil, Jornalista e Prof(o). Dennis de Oliveira e os professores integrantes do NCE/USP: o professor-orientador do estudo, Ismar de Oliveira Soares, Marciel Corsani e Claudemir Edson Viana.
Já a pesquisa realizada por Felipe Gustavo Guimarães Saldanha teve seu tema envolto na temática do jornalismo escolar e no programa Imprensa Jovem da rede municipal de educação de São Paulo. O trabalho buscou responder ao seguinte problema de pesquisa: como as práticas profissionais do jornalismo influenciam as práticas pedagógicas dos projetos de Educomunicação da Educação Básica? As hipóteses analisadas foram que, na dimensão estética, as mídias tradicionais exerceriam uma influência significativa, diferentemente da dimensão procedimental em que as rotinas de produção do fazer jornalístico teriam uma repercussão apenas limitada e superficial.
A banca de avaliação contou com importantes representantes da pesquisa sobre Educomunicação: Prof(a). Dr(a). Ismar de Oliveira Soares (Orientador); Prof(a). Dr(a). Elizabeth Nicolau Saad Correa (PPGCOM/ECA/USP), Prof(a). Dr(a). Claudemir Edson Viana (PPGCOM/ECA/USP), Prof(a). Dr(a). Marciel Aparecido Consani (PROLAM/USP), Prof(a). Dr(a). Rose Mara Pinheiro (UFMT e NCE/USP) e Prof(a). Dr(a). Rafael Gué Martini (UESC).
Como é possível ler no resumo da tese de Saldanha, há dois objetivos: “o objetivo geral é investigar os valores ético-estéticos que embasam tais práticas. O objeto empírico é o Programa Imprensa Jovem, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo”. Em seu estudo foram realizadas entrevistas com seis professores vinculados ao programa em Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs) e três ministrantes de formações afins ao Imprensa Jovem, além de um grupo focal com cinco alunos participantes do programa em uma sétima EMEF.
As discussões dos resultados apontam para uma refutação parcial das hipóteses. Na dimensão estética, os formatos tradicionais são apropriados em uma lógica trans-hegemônica na qual linguagens de outras práticas midiáticas e artísticas são incorporadas. Em contrapartida, na dimensão procedimental, docentes e estudantes valorizam e utilizam metodologias clássicas de apuração jornalística para qualificar a aprendizagem. Portanto, a conclusão é de que “o jornalismo escolar educomunicativo possui características distintas de outras práticas pedagógicas em termos de processos, atores e valores, de modo a constituir um esquema teórico próprio”.
Por fim, Felipe destaca que sua defesa foi desafiadora devido a um “doloroso processo de adaptação frente às contingências da pandemia” , mas que foi uma finalização positiva em seu percurso como aluno de Doutorado da Universidade de São Paulo.
As pesquisas estarão disponíveis no banco de teses da USP (Dedalus) para o público, pesquisadores e gestores interessados.